quinta-feira, 21 de julho de 2016

Última chamada para a fantasia

Em 2016 a turma de Oficina de Leitura e Produção de Texto optou pelo tema ‘viagem’ para o blog que editamos anualmente. Nele, os alunos do curso de Jornalismo da UNIJUÍ exercitam a produção autoral em textos de ficção, depois de um semestre inteiro de estudos sobre as relações entre o jornalismo e a literatura. O desafio lançado foi: criar a partir do tema ‘viagem’ uma história em formato livre – crônica, conto, poema em prosa, carta etc. –, soltando a imaginação e testando a capacidade narrativa.
O resultado aí está. Soma-se aos outros que temos trabalhado nesta disciplina nos anos anteriores, cujos links o leitor pode conferir abaixo. Mais uma vez, trazemos a público os novos contadores de histórias, futuros jornalistas que mostram seu talento para a narrativa e seu universo imaginário em viagens de pura fantasia. Embarque nessa!

Confira aqui as narrativas das turmas anteriores:



Marcio Granez

Editor e professor do curso de Jornalismo
Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS - UNIJUÍ

Fantasmas da perversidade

Leonardo Lauri Carlini

Sou padre. Sim, sou um padre. Miserável, débil e descrente, mas continuo sendo quem deve levar a palavra de um deus em que eu desacreditei. Hoje, com meus trinta anos de idade, olho pra trás e vejo que minha rotina sufocou toda a minha essência, minha vontade de realizar os meus anseios, meus luxos, de gozar a vida.
Aos dezoito anos de idade, após ter concluído o ensino médio, estava convicto de que minha vocação seria junto à igreja. Minha família, católica, sempre me direcionou aos caminhos do catolicismo, me fazendo crente em seu Deus. A partir daí, adentrei em um seminário da região, com o intuito de seguir os dogmas passados pelos que se dizem superiores em termos de fé.
Tento fazer uma análise, vasculhar o meu interior e procurar por qual escombro de minha fragilizada mente a minha fé se ocultou. O pouco que restava de minha sanidade acabou sendo exterminada com um cotidiano que se resumia entre casa paroquial e igrejas em que atendia. 



Apesar de minha curta carreira, milhares de confessos pecadores vieram a mim, com olhos frágeis e coração partido, procurando um conforto em meio ao mundo avesso em que fomos colocados. Entretanto, nenhum desses fiéis sabia que eu os desprezava, assim como um insignificante lixo que não me dou o desfrute de juntá-lo. Na verdade, meu real desejo era de cometer os seus pecados, deleitar-me das suas imperfeições e aplicar tudo o que há de mal em mim.
Me dirijo ao confessionário, ansioso à espera da primeira pessoa em que irei, por fim, aventurar-me e brincar com a sua existência.
Volto neste momento de uma viagem a uma capela interiorana. Venho matutando o percurso inteiro o momento libertário. Estaciono meu carro aos fundos da igreja, pressentindo um momento posterior. Me preparo, respiro e visto meu manto, que para muitos era sagrado, mas, para mim, um simples manto que irei banhar com sangue de pecadores. Me dirijo ao confessionário, ansioso à espera da primeira pessoa em que irei, por fim, aventurar-me e brincar com a sua existência. Poucos minutos depois chega um corpulento homem, com uma fisionomia abatida que começa a me confessar algo relacionado a infidelidade com sua esposa.  Dei de ombros a todas as suas conversas e antes que ele me desse as costas, minha adaga, pontiaguda e afiada, o perfurou com toda a minha energia contida durante anos.




Um banho de sangue, quente e de um vermelho vivo me atingiu, antes que o cadáver fosse ao chão. Uma jovem mulher, que acabara de entrar na igreja presenciou toda a cena. Por volta de vinte anos, pele branca, cabelo escuro e um tanto quanto acima do peso, a moça tentou correr aos berros para fora. Quanta prepotência... Nem bem chegou ao lado de fora, eu a alcancei, segurei-a pelos meus braços e arrastei-a para dentro. Minha vontade era de matá-la naquele exato momento, mas um lapso de lucidez me fez hesitar.
Um banho de sangue, quente e de um vermelho vivo me atingiu, antes que o cadáver fosse ao chão.
Com um murro na lateral de sua cabeça, deixei-a desacordada, ao passo em que procurava cordas e mordaça para deixá-la calada pelo tempo que fosse necessário. Minha astúcia levou-me a improvisar uma maneira de atá-la com toalhas que estavam em uma das mesas da matriz.
Imóvel, levei-a para o carro. Coloquei seu corpo no banco ao meu lado. Jamais tinha visto tal mulher. Minha abatida vida se transformava, da água para o vinho. Podia sentir uma palpitação impressionante de algo tenebroso tomando conta do meu ser, mas isso era algo bom, algo que eu tinha o anseio de conhecer. Acelerei. Não sabia para qual destino iria me direcionar, nem o que faria com a mulher.
Só sabia que estava viajando, imprevisível, desumano, vivendo a minha desumanidade, que assustadoramente me fascinava.






DO FILME DE VOLTA PARA O FUTURO I, II e III (BACK TO THE FUTURE, 1985)... Oficina de Leitura e Produção de Texto 2016 apresenta... De volta para o futuro: missão no Brasil

por Roger Alex de Almeida
Domingo, 15 de abril de 2018, 14 horas e 32 minutos, tudo aparentemente pacato na rotina da maioria dos cidadãos da cidade Hill Valley, Califórnia. Pacato, menos para o cientista Dr. Emmett Brown, que anda inquieto com as últimas notícias. Ele pega o jornal The New York Times, na capa do impresso a reportagem destaca: “A crise brasileira está afetando a América”, confere a matéria na íntegra lendo-a em voz alta.
“A crise do Brasil está causando um forte desequilíbrio na economia da América do Sul, resultando em uma da maior onda de desemprego dos últimos anos, a fome já atinge 50% da população. A crise é preocupante, pois o Brasil tem ligação fundamental na economia da América do Norte, o comércio de exportação e importação entre esses países está estagnado. O presidente dos EUA disse que rompera a aliança com o Brasil, isso pode explodir em uma guerra. Guerra das Américas.’’ Emmett Brown finaliza a leitura e liga para seu amigo Marty Mcfly.
O telefone toca na casa de Marty, ele pede para a sua esposa, Jennifer Parker, atender. “Amor, pode atender a ligação?” Jennifer responde “Sim, senhor Mcfly’’. Ela desliza o dedo no smartphone para aceitar a chamada do Dr.
- Alô, tudo bem, Dr. Brown? Brown responde que até o presente momento sim, mas no futuro, não estará nada bem. Emmett pede para falar com urgência com Mcfly.
Emmett pergunta se Marty tinha acompanhado as últimas notícias. Marty responde que não. “Não liguei a TV hoje, muito menos folheei o Times, para ver os fatos do dia, mas o que aconteceu? Não me diga que descobriram que Elvis Presley não morreu...’’. A Ironia de Mcfly não cortou o raciocínio de Emmett, que respondeu. “Elvis não morreu, mas a gente vai morrer se não mudarmos o futuro, e logo. Uma terrível guerra está para estourar na América! Esteja hoje à noite às 20 horas no meu laboratório, temos uma missão a realizar.’’ Dr. Emmett desliga o telefone, Marty se dirige para o local combinado.

Laboratório de pesquisa do cientista Dr. Emmett Brown
20 horas e um minuto, ele chega à casa de Emmett e se dirige até garagem onde funciona a oficina de criações do Dr. Emmett, na parede tem relógios com horários diferentes, no fundo ficam guardadas as invenções, no meio da garagem está o carro DeLorean DMC-12, modificado, que se tornou a máquina do tempo. O deslocamento do veículo é acionado quando máquina atinge 88 milhas por hora de velocidade. É dele que o Dr. Emmett Brown chama-o para entrar na oficina.



- ­Está atrasado, entra, precisamos achar uma forma de mudar o futuro, mudar o destino e evitar que a guerra das Américas aconteça. Vamos usar o DeLorean DMC-12, e fazer uma viagem ao passado para evitar que no presente ocorra o conflito. Mas primeiro temos que saber de que maneira e em qual época do tempo. Vamos realizar uma pesquisar para descobrir.
Eles passaram horas buscando nos livros, fazendo cálculos científicos, previsões do tempo, discutindo possibilidades, até que Marty descobre em um livro uma hipótese.
- Achei uma luz no fim do túnel, nesta obra literária do filósofo Karl Marx, que fala das ''concepções de mundo'', a formação das ideias da sociedade, as filosofias mitológicas, razão instrumental e o capitalismo de poder. A origem da crise do Brasil só pode estar na ideologia dos políticos. – Dr. Emmett responde positivamente.
- Sim! Você é um gênio, Marty, a origem da crise econômica é consequência da crise política, e a crise política só pode vir do modelo mental do governo. Que está corrompida pelo individualismo, interesses pessoais, partidários e pela corrupção. Marty pergunta para o Cientista qual seria a ação a ser tomada. Dr. Emmett responde:
- Precisamos voltar ao ano de 1840, quando Dom Pedro II, aos 14 anos, foi pronunciado capaz de governar. Ele era apenas um garoto, dependia diretamente dos seus conselheiros para tomar decisões, políticos notáveis​​: a "facção dos cortesões''. Essa facção foi a responsável por difundir o paradigma corruptível que perdura até os dias de hoje no Brasil. – Marty indaga como fariam para mudar o arquétipo.
- Eles dificilmente nos ouvirão, acho que vamos acabar virando escravos, queimados na fogueira ou mandados para a prisão. – Dr. Emmett responde:
- Não irão ouvir a nós. Mas as palavras do filósofo Emmanuel Levinas, que declara: ''o domínio da guerra e da violência é sempre sinônimo de uma vida sem-sentido. Somente uma relação pacífica e solidária entre as pessoas possibilita a superação do caos da guerra e a instituição de uma vida com sentido verdadeiro''. Temos que introduzir essa teoria dentro do conselho de Dom Pedro de Alcântara, para que se forme uma nova ciência com valores e princípios que respeitem a coletividade, pense no bem-estar do povo. Marty responde que achou em um livro de história do Brasil um homem que tinha ligação direta com a corte real.
-Engenheiro André Rebouças, esse é o cara que vai levar o manuscrito até o chefe, vamos entregar para ele a obra de Levinas. – Então o Dr. Emmett liga o automóvel, acerta os ponteiros do relógio temporal, pisa fundo no acelerador e diz:
- Apertem os cintos! Rio de Janeiro, 1840, aí vamos nós fazer uma interrupção no tempo-espaço.

Rio De Janeiro, século XVIII
Uma explosão acontece no céu, é a máquina do tempo chegando como um raio ao Império brasileiro, ela estaciona na beira da praia. Marty Mcfly sai do DMC assustado, olhando tudo a sua volta, o doutor desce vestido com roupas antigas à moda inglesa, com um mapa na mão ele mostra a seu comparsa como chegar à casa da Família Imperial, e se aproximar do engenheiro André.
Dr. Brown criou uma estratégia de levar a tese do filósofo até André Rebouças, disfarçando seu amigo de mensageiro do rei de Portugal. Brown orienta Marty acerca do plano.
- Primeiro você vai se chamar mensageiro Augusto Cabral, e chegará a cavalo à casa do imperador. Quando saírem ao seu encontro para o receberem, você diz que tem boas novas e uma dádiva do rei de Portugal, para seu filho amado Dom Pedro II. Diga, olhando para André, que o presente é de extremo valor e de inteira aceitação, clame aos seus ouvidos que as mensagens nele contidas devem servir como um manual de governo do Brasil, e deverá ser preservada para as gerações futuras. Agradeça e saia rápido de cena, estarei aguardando por você na praia do Rio, para partimos de volta para o futuro.
Marty chega a cavalo ao palácio de Dom Pedro II, e é recepcionado pelos soldados da casa, Mcfly se identifica como Augusto Cabral, mensageiro da Coroa portuguesa. Ele solicita apresentar-se diante do imperador. Os guardas deixam Marty, ou melhor Augusto, entrar e pronunciar o comunicado, André Rebouças o recebe.
- Sou o mensageiro Augusto Cabral, vindo de Portugal, trago mensagens do rei ao seu filho e conselheiros. Poucas palavras tenho a dizer, mas de suma importância. Ele deseja que se cultive a paz nesta terra, que se forme aqui um povo honesto e trabalhador. Tenho também essa dádiva especial, na verdade ele é mais do que um presente, é um livro, conjunto de princípios e valores morais, nele está o sucesso e futuro do Brasil.
Marty deixa o local e vai em direção da máquina do tempo, mas é barrado no caminho por um homem, senhor dos escravos dono de uma grande fazenda.

Marty Mcfly, escravo fujão
Quando se aproximava da saída da cidade, Marty foi confundido com um escravo que havia fugido de uma senzala, ele foi capturado e colocado à venda no mercado popular. O comerciante anunciava o novo produto para os clientes.
- Escravos! Escravos pelo melhor preço e de boa qualidade! Veja esse daqui, tem todos os dentes na boca!– fazia a propaganda apontando para Mcfly, que tentava explicar que tudo não passava de um engano, mas o vendedor oferecia os produtos humanos com mais empolgação.
- Escravos, escravos de qualidade, fortes, prontos para o trabalho! Vejam esse daqui, além de ter todos os dentes sabe falar nossa língua, um ótimo negócio! Quem vai levar?
Nisso aparece o cientista Emmett e faz uma proposta pelo escravo: ele oferece cinco moedas de ouro. O negociante vende Marty para o doutor, eles partem rumo à beira-mar, para retornarem ao seu tempo.
Dentro do carro usado para viagem no tempo DeLorean DMC-12, eles olham para o jornal trazido junto do futuro, e notam que a notícia da guerra das Américas foi apagada. Mcfly comemora e liga o carro, pisa no acelerador e diz: ''De volta para o futuro!’’.

De volta para o século XXI
Hill Valley, 2018, um relâmpago surge no meio da rua, é a máquina do tempo chegando. Dr.Brown corre até uma banca de jornais e adquire uma edição do The New York Times. No impresso a matéria acerca da crise brasileira e possível guerra não existe mais, ele relata as novas informações para Marty.
- Veja, Mcfly: Brasil é reconhecido mundialmente por promover a paz e união dos povos. A economia brasileira cresce rapidamente, em um futuro próximo o país deve se tornar a 2ª potencial mundial. A concepção de mundo foi mudada.
Mas outra notícia despertou a atenção do cientista e de Marty.
- Arqueólogos descobriram um objeto histórico nas ruínas da casa da família de Dom Pedro II, no Brasil. O artefato é muito semelhante com um celular. Mcfly! Você perdeu o seu smartphone no passado! E agora? Isso vai provocar um paradoxo temporal, temos que voltar...
Quem se aventura a continuar essa história, lembre-se: o futuro ainda não foi escrito. Ele será o que você escolher hoje.