segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Viajando para o fim do mundo

Mariane Ramos Santos

Era verão, passávamos as férias em uma cidadezinha do interior chamada Itaju, com pouco mais de 5 mil habitantes. Todos os moradores conheciam uns aos outros e meus pais decidiram que seria um ótimo lugar para curtir as férias. Era uma tarde de domingo, o céu estava lindo e eu estava deitado no gramado do quintal observando a movimentação das nuvens, pisquei. No mesmo instante, alguém dentro da casa ligou o rádio e todas as estações anunciavam que o mundo acabaria naquele dia.
Ainda não se sabia como, mas acabaria. Talvez um ataque de zumbis? Ou o sol queimaria a terra inteira? Tsunami? Furacão? Olhei novamente para o céu, pensei em ir correndo abraçar minha família, meus amigos, mas refleti: Impossível, esse dia tá lindo.
Começou a correria na cidade, as pessoas só falavam sobre o fim do mundo, mas eu? Eu caminhava tranquilo, tinha fé de que aquilo era boato, conversa fiada, alguém querendo causar polêmica. Enfim 13h, com todo o movimento da pequena Itajuzinha todos se dirigiam até o mercado e compravam tudo o que podiam para fazer estoque de alimentos em suas casas caso o inesperado acontecesse realmente.
Mas eu, Lucas, estava despreocupado, nada tirava da minha cabeça que isso era apenas uma mentira iguais às de outros anos. O mundo acabar em pleno ano de 2039? Não! O mundo ainda era muito novo para acabar.
Meus pais também estavam no supermercado, então sem almoço fui até uma lanchonete no fim da rua. “Eu quero um hambúrguer completo, batata frita e uma Coca-Cola”. O garçom me olhou rápido e apavorado. “Garoto, nós já estamos fechando, você não está ouvindo as rádios? Estão mandando todos ficar em casa”. Com fome, voltei para a casa com esperança de encontrar algo para comer. Meus pais ainda não haviam voltado, então de repente ouvi um barulho, parecia um zunido misturado com um estrondo muito grande. Abri a janela, e não avistei nada tudo parecia normal, resolvi sair e olhar a rua inteira.



Quando avistei aquilo, dei um grito, entrei em pânico, apavorado voltei para dentro de casa. Meu Deus, eu estava ficando louco, aquilo não podia ser real?! Zumbis? Acompanhados de insetos gigantes???? Eu estava delirando, até porque aquilo não existia, era impossível! Minha família chegou em casa, assustados nos escondemos no porão. Peguei o notebook com o resto de bateria que restava e comecei a pesquisar possíveis causas que explicassem aquela situação horrível.
Notícias de testes realizados pelo exército com armas biológicas apareceram nas minhas redes sociais. Estava explicado! Algo havia dado errado. Mas como seria possível destruir essas coisas horríveis e salvar o mundo? Esperamos passar a multidão de zumbis e corremos para o carro. Meu pai dirigia muito rápido, chegamos à ponte e o trânsito parou. Pessoas se atiravam na frente dos carros pedindo por carona, adultos, jovens, crianças, parecia um filme de terror. Policiais atiravam em quem estava se transformando em zumbi. 
Não tinha como atravessar a ponte, e se saíssemos do carro seríamos mortos. Meu pai acelerou muito forte, passou por cima de todos que estavam ali. Seguimos viagem para o lado norte do país, íamos parando em postos de gasolina e abastecíamos onde ainda restava algo. Fomos obrigados a viajar para encontrar um lugar onde existisse esperança.



Viajamos por dias, passando por lugares totalmente destruídos, a vegetação estava morrendo. Em algumas cidades como a nossa, a destruição era pior, mas conforme nos dirigíamos na direção norte o caos ia diminuindo e chegamos a cidades em que ele ainda nem havia chegado.
Levei um susto. Acordei no meio do quintal ainda deitado na grama. Meu Deus! ERA UM SONHO, NÃO ERA REAL! Pulei, gritei, corri para dentro de casa, tudo estava no seu lugar. As pessoas que passavam pela rua eram humanas, sem zumbis, ou insetos gigantes. Que alegria, nossa terra estava a salvo.
Meus pais estavam se ajeitando para ir até a praia e curtir nossa viagem. Eu nem acreditava que tudo aquilo foi apenas um sonho, parecia tão real. Eu só tinha a agradecer por não ser verdade. Peguei minha prancha de surfe e fui até a praia com meus pais e meus irmãos, então senti que podia compartilhar com eles o meu terrível sonho.
Meu pai me aconselhou a esquecer tudo aquilo e explicou que às vezes é preciso tirarmos umas férias para viajar e sair da rotina pois senão nós mesmos nos tornamos nossos monstros diários, só pensando em trabalhar sem aproveitar a vida. Decidi que esqueceria aquilo tudo e que aproveitaria cada minuto. Foi incrível. Abandonei a rotina e foi libertador. Sem pesadelos pelo resto das férias!!

Uma viagem ao 'eu' desconhecido

Suzana Klein da Silva

Ei! Você já parou por alguns segundos para observar a sua volta? A si mesmo? Difícil, não? Com a correria do dia a dia, deixamos passar despercebidos de nossos olhares coisas simples, corriqueiras do nosso cotidiano, mas que aos poucos vão moldando as “vidas” que nos cercam e a nós mesmos. Experimente por alguns segundos admirar, da sua janela mesmo. As paisagens, sentir o vento, ouvir os sons que ecoam a sua volta, as pessoas, mas principalmente busque entender a si mesmo e aos outros que o cercam. Nossa história começa em uma bolha. - Uma bolha? - Sim, isso mesmo! Uma bolha. Não uma simples “bolha de sabão”, que flutua pelo ar, quando soprada por uma criança, ou aquelas “bolhas” que saem em ferimentos, eca!,definitivamente não! Essa “bolha”, vamos assim chamá-la, é o lugar onde vive Karle. Em um tempo não muito distante, há lugar isolado por uma enorme bolha, de nome um tanto peculiar, “Divinópolis”. Neste, tudo e todos vivem envoltos por bolhas, cada um com a sua, “casulos” se assim preferir.



Ali vivia Karle com seus 18 anos, estudante, levava uma vida normal, porém tediosa. Imagine você aí, de sua janela, se tudo que o que vê fosse exatamente igual, “um monte de bolhas”. Tedioso, não? Enfim. Naquela manhã de verão nada era diferente, a mesma rotina, os mesmos sons, as mesmas bolhas, porém Karle lembrara de um sonho. Neste, ela se encontrava em um lindo jardim florido, admirava um pôr do sol deslumbrante, sentada com um livro na mão, ao lado de uma cesta de frutas em cima de uma toalha xadrez, estendida sob a grama, um “piquenique”. Cena que Karle só lia em livros, pois nunca esteve num lugar assim, “especial”, sonhar com este só lhe fez pensar... “- E se tudo o que há fora dessa bolha for diferente?”. Quanto mais pensava, mais vontade ela tinha de sair dali.  Mas como iria fazer para sair de sua bolha?  Escapar da enorme bolha que a cercava? O jeito era arranjar uma forma, pesquisar nos livros uma maneira de livrar-se das “bolhas” e ir em busca de seu maior desejo. Sua aventura começava na biblioteca.



Ao chegar à biblioteca da cidade, Karle encaminhou-se para a seção em que estavam os livros sobre ferramentas, após a pesquisa encontrou o livro “Formas e Soluções”, que trazia as formas como foram confeccionadas cada bolha e como fora fundada a cidade. Porém estas eram muito complexas para o entendimento de Karle, já que envolviam cálculos e “Matemática” não era o seu forte.  No capítulo “Soluções”, Karle encontrou um trecho que trazia a frase “São escolhas que nos fazem e moldam nossas vidas”. Naquele instante ela não compreendeu do que a frase se tratava. Voltou a ler, folheando página por página, até o momento que encontrou uma anotação no rodapé da página 67: “Se procura uma saída, busque isso em si mesmo”. Novamente não compreendeu e passou a folhear cada vez mais as páginas na ânsia de encontrar uma solução. As páginas do livro cessaram e sem respostas Karle saiu da biblioteca desapontada. No caminho ela tentava entender qual o sentido das frases; entretanto, quanto mais pensava menos compreendia.
São escolhas que nos fazem e moldam nossas vidas.
Após caminhar por horas refletindo sobre as frases, ela se encontrou de frente a um caminho estreito. Nunca havia visto aquela parte da cidade, nem sequer sabia aonde aquele caminho a levaria, mas ela precisava de respostas e foi aí que “escolheu”: “Seguirei em frente” - disse para si mesma.  A cada passo por aquele caminho, Karle pensava: “O que farei se essa for a saída?”. O medo do desconhecido aos poucos ia tomando-a, mas sua vontade de sair da bolha era maior. No final daquele caminho Karle avistou uma porta; estava trancada, porém havia algo escrito: “Descubra a chave e encontre seus sonhos”. Ao ler em voz alta a frase, ela ouviu um ‘Bip!’soar, depois do som a porta abriu. Levava a uma sala cheia de espelhos, no centro havia uma poltrona, ao lado desta uma mesinha e em cima da mesa um livro. Tomada pela curiosidade, ela entrou na sala, sentou-se na poltrona, pegou o livro na mão, o qual trazia o seguinte título: “A viagem de volta ao amanhã”.
Karle começou a folhear as páginas, que traziam imagens, fotos de paisagens, pessoas, animais, plantas, entre outros. Quanto mais folheava as páginas do livro, mais fascinada ficava. Em uma página havia uma pequena foto de um senhor velhinho, cujo nome não estava escrito, abaixo da imagem havia a seguinte frase: “Se encontrou a saída dentro de si, este será o seu recomeço”. A garota não entendia o que tais palavras significavam, fechou o livro e o colocou novamente sobre a mesa. Ao se levantar para sair da sala, Karle deparou-se com a porta fechada. Por um momento a garota ficou assustada, pois como iria sair daquele lugar, se ninguém havia visto ela entrar ali? Minutos se passavam e mais apreensiva ela ficava. Sentou-se novamente na poltrona, na tentativa de acalmar-se e tentar achar um meio de sair daquele local.  Karle passou a observar a sua volta. Ao entrar na sala, ela não notara que, de todos os espelhos, apenas em um, do lado esquerdo da saleta, conseguia ver o seu reflexo.



Começou a observar-se por alguns instantes, enquanto admirava as linhas do seu rosto, os olhos, nariz, orelhas, o comprimento de seu cabelo, seu corpo. Quanto mais via-se, menos ela se conhecia. A imagem refletida pelo espelho era de uma desconhecida. Aquela seria realmente ela? Apenas uma bolha em meio a tantas outras? Não! Karle sabia que era mais do que simples bolha, ela havia feito a escolha de seguir em frente, em busca de seu sonho. Ao refletir, entendeu a primeira frase do livro “Formas e Soluções”, o qual lera na biblioteca. “São escolhas que nos fazem e moldam nossas vidas”, pois ela havia feito a escolha de seguir em frente sem recear o que a esperava. Ao repetir a frase em voz alta, duas janelas entre os espelhos começaram a surgir. Na primeira estava escrito “o Ontem” e na segunda “o Amanhã”.  Teria ela que escolher entre uma das duas para sair dali? – Pare um instante e pense... qual seria a sua escolha, conhecer o ontem ou o amanhã?
A dúvida pairava nos pensamentos de Karle. Qual escolha fazer? O ontem ou o amanhã? Em um certo instante a dúvida foi dizimada, pois ela conhecia o ontem, este era como sempre fora, as mesmas coisas, mesmas bolhas. Desconhecia o amanhã, mas não sabia como este seria, se não vivesse o hoje, o presente. Agora ela conhecia a si mesma, sabia o que queria, e não iria tomar decisões precipitadas, pois suas escolhas a trouxeram até a li e moldaram a sua nova vida, seu novo eu. Karle andou em direção à porta da sala, quando ouviu algo ranger abaixo de seus pés. Ali havia uma madeira do assoalho solta, ela abaixou-se e cuidadosamente retirou a madeira. Dentro do buraco que se formou no chão, estava um bilhete envolto em uma chave. Neste dizia: “Viva o Hoje na ânsia de conquistar o Amanhã”. Ao dar um passo para trás, a garota percebeu uma fechadura, no canto inferior esquerdo do espelho, o qual antes contemplava o seu reflexo. Ela seguiu em direção ao espelho, pôs a chave na fechadura e girou-a lentamente.
Viva o hoje na ânsia de conquistar o amanhã.
Neste instante uma porta surgiu entre os espelhos, atrás da poltrona. Ela seguiu em sua direção, posicionou sua mão direita na maçaneta da porta e lentamente foi abrindo-a. Ao abrir a porta por completo, a garota observou ao longe o entardecer, o pôr do sol de seus sonhos formando-se na sua frente, flores e um gramado extenso formavam tal paisagem. Sem hesitar, Karle despiu-se dos medos e seguiu em frente. A porta fechara-se “exilando” um mundo em que semelhantes se tronaram desconhecidos, sucumbidos por suas bolhas. Hoje Karle viaja pelo mundo, faz seus “piqueniques” na companhia de seus livros, contempla as belezas, que antes passavam despercebidas no seu dia a dia, conhece pessoas, faz de cada uma das suas escolhas oportunidades para recomeçar, seguir sua vida e conquistar os seus sonhos, a cada novo amanhecer...



Faça você esta viagem, em busca do seu “eu” desconhecido, procure encontrar-se e entender as pessoas, as coisas como elas são. Desfaça-se de sua bolha e contemple a vida como ela é. Viva o hoje e conquiste o amanhã.

Uma viagem (muito) estranha

João Vitor Taborda Salla

Era um final de semana qualquer, comum, sem notícias impactantes, tampouco novidades. Preparava minhas malas, mochilas e tralhas para algo que seria uma viagem um tanto quanto interessante. Sairíamos de Santa Cruz do Sul/RS, rumo a Coronel Procópio/PR. Pouco mais de mil quilômetros de estrada, onde o mais importante seria o meio desse contexto. O carro em que iríamos era da mãe de uma amiga minha, um pouco mal cuidado, mas, de certa forma, propício para a nossa aventura.
A gente iria sair pela manhã, bem cedinho. Então não perdi tempo, e fui arrumar minhas coisas. Meu irmão me indagou sobre o que eu levaria de bagagem, que não era pra levar tantas coisas, pois era verão, e ficaríamos poucos dias por lá.
- Ah, mano, tô levando meus bagulhos normais. Skate, um cd novo do Projota – caso a galera que for junto resolva colocar aquelas músicas melancólicas do Luan Santana, Jorge e Mateus etc. Também tô levando a minha câmera fotográfica. Enfim, essas coisas – respondi ao meu irmão.
Terminei de arrumar minhas coisas, passei todos os episódios das minhas séries favoritas para meu HD externo, para talvez assisti-las durante a viagem, arrumei as roupas e fui dormir.



Logo, já acordei cedo - por volta de umas quatro e meia da manhã. A galera já passou para me buscar em casa, e “largamos” rumo a Coronel Procópio. Durante a viagem, várias pausas para fotos, selfies etc. Foi então que – visível e premeditadamente – colocaram aquelas músicas melancólicas, sobre as quais citei os cantores acima. Puxei meus fones de ouvido, coloquei FarAway, da banda canadense Nickelback, e fechei meus olhos para tentar me desligar daquele “mundinho” o mais rápido possível.
Olhei para os lados, todos haviam sumido, havia somente eu no carro, e o mesmo estava parado no meio daquela rodovia deserta.
Acordei ouvindo algo estranho, que parecia uma fusão de O Nome Dela é Rapariga, de Naiara Azevedo, com um funk music, desses famosinhos como Baile de Favela, de Mc João. Olhei para os lados, todos haviam sumido, havia somente eu no carro, e o mesmo estava parado no meio daquela rodovia deserta, quase que como (aí vem outra citação) o episódio piloto da série The Walking Dead - onde o protagonista acorda sozinho no hospital. Foi quando fiquei desesperado, saí do carro, e entrei na mata para procurar meus amigos, tentar encontrá-los.
Nisso, ouço um boooom, essa onomatopeia faz com que eu olhe para os lados, neste momento começo a ver tudo em chamas – como descrito no texto O Final, ou o Começo de um Novo Mundo, de Betina Cesa. Parecia tudo devastador, tudo queimando e explodindo. Foi quando as explosões me alcançaram, e, após um tempo, começo a ouvir uma voz familiar, que dizia:
- Vamos, acorda. Vamos, se mexe.
Começo a perceber que a voz se trata de Olívia, minha amiga, filha da mulher que nos emprestou o carro.
Começo a perceber que a voz se trata de Olívia, minha amiga, filha da mulher que nos emprestou o carro. Percebo que estou só no carro novamente, mas desta vez em um lugar mais movimentado, com buzinas e barulho de carros. Antes que me desse conta, Olívia já estava me falando:
- Vamos, dorminhoco, você dormiu quase a viagem inteira! Só mais essa foto e já estamos quase chegando.
Precioso momento em que fiquei aliviado. Meus amigos não haviam sumido, eu não estava inserido na vida real de uma série fictícia, muito menos estava ouvindo aquelas músicas desagradáveis. Eu apenas tinha ido para uma área em que fiquei preso nos meus próprios pensamentos, imaginando coisas, preocupado, e vendo o fim do mundo (sem alienígenas). É, podemos chamar isso de viagem.

A viagem dos sonhos sem volta

Valéria Foletto

Maria, uma moça de 16 anos, e João, rapaz de 18, se conheceram na escola Cásper Líbero em Malasca, no ano de 1990. O encontro rendeu um amor à primeira vista e para a vida toda. Maria sempre muito sonhadora, delicada e sincera, adorava os regalos que o namorado lhe dava de presente em datas especiais e também em dias comuns, porém muitas vezes estranhava os comportamentos do namorado. Quando saía de casa para jogar com amigos, demorava a retornar, suas saídas lhe geravam desconfiança.
Certa vez, João saiu no domingo e desapareceu completamente. Disse que ia jogar pôquer, e de repente sumiu. Maria ligava no celular, chamava pelo nome pelos bairros da pequena cidade de Malasca, de três mil habitantes, mas João não respondia. A família, preocupada, já havia perdido as esperanças ao pensar que o pior pudesse ter acontecido com o jovem. O caso era misterioso.
No pescoço, uma gravata lilás com um tope delicado. Nos rosto, os óculos eram de chocolate e nas orelhas usava brincos de avelã. Os pulsos possuíam pulseiras de gominhas coloridas.
De repente, ao meio dia da sexta-feira seguinte, João reapareceu em casa, mas muito diferente de como havia saído, no domingo à tarde. Ele chegou com o cabelo cor de rosa, semelhante a um Bombril, as calças listradas em preto e branco e a camisa laranja com bolinhas de confete. No pescoço, uma gravata lilás com um tope delicado. Nos rosto, os óculos eram de chocolate e nas orelhas usava brincos de avelã. Os pulsos possuíam pulseiras de gominhas coloridas.



Mas o que era aquilo? Ao bater à porta, Maria, quando viu seu namorado daquele jeito, não o reconheceu, se assustou com o sujeito em sua frente e desmaiou. No mesmo instante, um pó todo dourado foi jogado pela escada que dava acesso à porta da casa. Chamequinho, um boneco de chocolate, que parecia um biscoito, atirou no casal o pó de pirlimpimpim que os levou a uma viagem inesquecível no Mundo Doce das Fantasias. O boneco de chocolate havia abduzido João anteriormente, porém o jovem sentiu saudades da esposa e quis voltar. No entanto, o Mundo Doce das Fantasias permite apenas uma viagem de volta pra casa. A partir de agora, o casal vai passar a viver em um mundo absolutamente diferente daquele vivido na terra.
O pó de pirlimpimpim ajuda a levar os jovens sonhadores a um mundo das fantasias, onde o real é criado por eles, através da imaginação. A viagem durou cerca de quatro minutos. Quando o pó é jogado, uma fumaça brilhante cega os que assistem ao momento e os faz perder a memória. Após o pó ser jogado, a fumaça começou a voar pelos céus, até chegar ao Portal da Luz, a ponte que dá acesso ao Mundo Doce.
O pó de pirlimpimpim ajuda a levar os jovens sonhadores a um mundo das fantasias, onde o real é criado por eles, através da imaginação. A viagem durou cerca de quatro minutos. 
Quando o casal chegou ao mundo das cores, doces, sonhos e fantasias, Chamequinho lhes disse: “Bem-vindos, agora que sua esposa está aqui, não tem como voltar para casa. A partir de agora viverão para sempre no Mundo Doce”. Assustada, Maria pegou João pelo braço e começou a correr em disparada até uma cachoeira, onde se esconderam atrás das pedras. “Que mundo é esse? Como vim parar aqui?”, questionou a jovem. “Meu amor, seu sonho era viver sem compromisso ou responsabilidade, apenas viver em um mundo novo. Realizei seu sonho”, respondeu João, beijando a moça.



Após esse momento Maria estendeu o braço em direção à cachoeira e encostou o dedo no líquido que descia pela cachoeira e notou que era mousse de maracujá. O sonho de fantasias se tornara realidade para a jovem. Maria então pegou a mão de João e juntos foram desbravar o Mundo Doce das Fantasias, onde as árvores eram de wafer, as casas de rapadura, e os edifícios de bolo de milho. As pessoas eram todas de chocolate, e não tinham a chance de viver, pois um mordia o outro, e com isso ficavam sem a cabeça, sem um braço ou uma perna. O mundo dos sonhos era especialmente e exclusivamente para o casal João e Maria, que, após fugir da feiticeira na terra, tiveram de vencer uma batalha contra bruxas e duendes. Agora, João e Maria podem descansar, pois a única preocupação do casal é em comer doces e desbravar o Mundo Doce das Fantasias. Parece que a hora do descanso chegou, não é mesmo?

A viagem que não aconteceu

Évelin Diogo Lorca

Chegou o tão esperado dia, o dia de embarcar para meu intercâmbio em Madri. Só eu sei o quanto batalhei para que esta viagem, ou melhor, este sonho se tornasse realidade. Tive que abrir mão de muita coisa, inclusive do meu amor, o Gabriel. Mas acredito que em primeiro lugar devem vir os nossos sonhos. Resolvi ir sozinha para o aeroporto, não gosto de despedidas. Chamei o táxi. Quando ele chegou, dei uma última olhada na minha casa, para que ficasse com a lembrança dela na mente durante esse próximo ano que ficaria fora.
Quando estávamos próximos do aeroporto ouvi um estrondo muito forte. Então me vi caída no chão, muitas pessoas estão ao meu redor. Não entendo o que aconteceu. Sinto uma dor enorme na minha cabeça, tento pedir ajuda, mas é em vão, eles não me ouvem. Ouço então sirenes vindas em direção onde estou e algumas pessoas de branco me recolhendo para colocar na ambulância.
Sinto uma dor enorme na minha cabeça, tento pedir ajuda, mas é em vão, eles não me ouvem. 
Chegamos ao hospital, todos abrem espaço para que possam passar com a minha maca. Ainda não entendo o que está acontecendo, mas me preocupo, por que ninguém me escuta? Por que eles não ouvem o que eu digo?
Vejo de longe, são meus pais. Gabriel está com eles também. Todos choram desesperados, tento dizer para eles se acalmarem, que estou bem, mas eles também não me escutam. Um médico se aproxima e ouço-o dizer que terei que fazer uma cirurgia urgentemente, pois o acidente foi grave.
Desespero-me, não posso morrer, não agora! Tenho uma vida pela frente, meus sonhos como ficam? A viagem que tanto esperei acontecer? Não, não me deixem morrer! Corro até onde está meu corpo, ali parado sem nenhuma ação, vejo sangue por todo ele. A cirurgia já dura horas, quando finalmente o médico sai da sala.
Meus pais e o Gabriel o olham com apreensão. Ele então diz que fizeram tudo que estava ao seu alcance, mas infelizmente não tinham obtido êxito. Agora estava a critério de eles decidirem o que fariam, se desligariam os aparelhos ou não.
Meu mundo desmorona, eu não quero ir, não posso deixar eles que amo tanto. Dói-me pensar nisso, mas me dói mais ainda saber que não disse isso a eles, eu passei tanto tempo preocupada com meus sonhos, com a minha estabilidade, em ser independente com esta viagem, que acabei esquecendo de dizer a eles o quanto são especiais para mim e o quanto eu os amo.
Meu mundo desmorona, eu não quero ir, não posso deixar eles que amo tanto. 
Eles estão sem reação. Seguem até o quarto onde estou e eu os sigo. Primeiro meus pais entram. É terrível vê-los tão desmoronados assim, eles choram em cima de mim e eu queria poder abraçá-los, mas eles nem sequer sentem meu toque. Desnorteados em me ver naquela situação e certos que deveriam me deixar ir, saem da sala para que Gabriel possa se despedir também.
Ele entra no quarto, seu rosto está vermelho, seus olhos inchados. Nunca o vi assim. Só queria poder dizer a ele que o amo. Gabriel se aproxima e pega na minha mão. Sim, eu senti seu toque, e então o ouço dizer:
- Ana, você não pode ir, eu preciso de você aqui! Não sei ficar sem você, eu te amo!
Nisso, sinto algo estranho, uma força me invade e me faz ter coragem para lutar. Vejo uma luz muito forte, que me guia. Eu preciso voltar! Então abro os olhos. Aperto a mão de Gabriel e digo que o amo.




Viagem à Lua

Marcello Kochhman Lucas

“...a lua tão bela, iluminada e desejada. Na maioria dos romances o homem promete a lua a sua amada. Mas eu não. Eu vou lhe dar a lua. Uma viagem a ela...”
Eu vou lhe dar a lua. 
Tudo começou no dia 21 de abril de 2015, quando eu e mais 2 amigos resolvemos assaltar o maior banco do nordeste do Brasil. Seria o maior esquema de assalto a banco da história do país, quiçá do mundo. Meio bilhão de reais estava em jogo. O suficiente para chegar à lua com minha amada. Os túneis estavam prontos. A logística perfeitamente encaixada para até a fuga ser perfeita e segura.




Na madrugada do dia 22, estávamos reunidos para às 7 da manhã dar início ao esquema. Era feriado. O banco fechado e com pouca vigilância. Nos meus olhos, o brilho da lua. A lua em que prometi a minha amada. A gana por aquele montante só aumentava a cada segundo.
Nos meus olhos, o brilho da lua. A lua em que prometi a minha amada.
Eram 6:30 da manhã, fizemos a oração. Meus 2 amigos nem fé tinham, mas rezavam para cumprir o protocolo de assalto. Era habitual para eles. Naquele momento me bateu um certo receio. Não culpa, afinal era um presente a minha amada.
7:30 da manhã implodimos o primeiro cofre. O dinheiro estava sendo carregado. A viagem à lua estava tão perto. Meus olhos brilhavam mais do que nunca.
Não sabemos como, mas perdemos o controle de tudo. Carregamos o dinheiro todo, dos 3 cofres. E na saída do túnel estava a tropa de choque da polícia militar. O sonho da lua havia acabado.
Fui preso. Estou aqui há 8 anos. No presídio central. A viagem à lua eu não consegui. Mas a amada eu encontrei aqui dentro.
Tentei dar a lua à amada. Amada essa que eu ainda não havia encontrado e aqui dentro encontrei. Agora sim, quando sair daqui eu darei a viagem à pessoa destinada. Enquanto isso vemos a lua brilhar quadrada, da janela da cela da prisão.


No destino da Amazônia

por Deise de Moura Tolfo

O bilhete para o voo rumo à Amazônia estava comprado e eu, já me sentia aliviada por ter dado tudo certo: as datas, os valores e o pacote. Foram horas de negociação, mas a opção mais atraente que a moça da companhia aérea me passou foi para a Amazônia. Confesso que na verdade queria ter ido para Fortaleza, mas parece que esse não seria o meu destino.




Cheguei em casa contente, sabendo que logo estaria do outro lado do Brasil. Os dias se passaram e logo chegou a data tão esperada. Eram 7 horas da manhã de segunda-feira, meu relógio despertou. Acordei assustada, pulei da cama e já fui preparando minha mala. Roupas, casacos: não, casacos não! A moça da companhia me disse que a temperatura lá é bem alta. Separei, então, somente roupas leves, chinelos, tênis, livros, e o necessário para ficar duas semanas fora de minha casa. Quando acabei, não havia mais nenhum espacinho para coisa nenhuma naquela mala, e ainda faltavam alguns objetos. Resumindo, tive que sair às pressas para arranjar mais uma mala. Minha vizinha me deu a maior força, emprestou a dela e pude organizar todas as minhas coisas.
Confesso que na verdade queria ter ido para Fortaleza, mas parece que esse não seria o meu destino.
A viagem estava marcada para as 21 horas e precisava chegar a Porto Alegre em tempo hábil. Para minha sorte, consegui estar no Aeroporto Salgado Filho com uma hora de antecedência.  Fiz o check-in, entreguei o bilhete ao funcionário do aeroporto e segui em direção ao avião. Quando entrei pela porta da aeronave lembrei de tomar meu remédio para enjoo, sempre fico mal na decolagem, meu estômago revira, minhas mãos ficam trêmulas e sinto como se estivesse tendo uma coisa. Estava transtornada com aquilo, mas pensei em soluções. A aeromoça logo veio para meu lado, e tive uma ideia fantástica, que talvez me livraria de todas aquelas sensações horríveis. Chamei ela e pedi: moça, tens algo para enjoo? Esqueci do meu remédio! A moça prontamente me atendeu e me trouxe novamente o descanso.



O taxista maluco: em Manaus quem menos anda, voa!
Foram quase sete horas dentro daquele avião. Confesso que para mim essa é aparte mais chata da viagem, aquele ambiente me sufoca! Acho que sofro de claustrofobia. Mas enfim, cheguei no meio da noite ao meu destino. Paramos no Aeroporto de Manaus e precisava de um táxi que me levasse para o hotel. 
Já em terra firme, tudo já estava ficando melhor! Peguei o primeiro táxi da fila, forneci o endereço que a moça da companhia me passou e o taxista deu a partida no carro e saiu com muita pressa. A cidade estava silenciosa e o motorista estava bem nervoso, andava bem rápido que quase não vencia as esquinas. Comecei a ficar com medo. Ele me olhava pelo retrovisor, e nem cuidava muito o trajeto que fazia. Perguntei a ele se demoraria muito e ele em um tom bem grosseiro me respondeu: quer que eu ande mais! Tratei logo de ficar quieta e senti um cheiro desagradável, acho que era de bebida. Pensei logo: meu Deus, onde fui me meter!
Ele andou cerca de 40 minutos e eu percebi que ele estava dando voltas demais, não tinha certeza, mas isso me passou pela cabeça. Só queria entender se ele tinha alguma intenção maldosa ou apenas queria que eu pagasse a mais. Mas enfim, cheguei no hotel sã e salva! A moça da portaria foi logo me receber e perguntou se estava tudo bem comigo, acho que ela percebeu meu pavor! Após a recepção, fui para o meu quarto descansar para iniciar o dia tão esperado; o dia de conhecer a selva amazônica.
Era encantadora a diversidade de cores das casas, uma arquitetura bem diferente da nossa.
Dormi bem pouco, acordei com o sol no meu rosto, olhei para fora da janela e me deslumbrei ao ver uma cidade tão bela. Era encantadora a diversidade de cores das casas, uma arquitetura bem diferente da nossa. Me empolguei bastante e estava ansiosa para conhecer tudo. Desci até a portaria e lá estava um índio me esperando para me levar até o acampamento na selva. Foram mais duas horas de trajeto, almoçamos no caminho e logo na primeira hora da tarde pegamos uma lancha para chegar até o destino. Foi surpreendente, ou melhor, espetacular! Nunca pensei que houvesse tanta diversidade de coisas naquele lugar. Consegui avistar bem de longe uma onça e logo mais pude ver macaquinhos saltitando pelas árvores. Nesse meio tempo, nessas duas horas, pude perceber o valor que tem a nossa Amazônia.



O amanhã é uma incógnita

Larissa Caroline Berwanger

Era dia 19 de dezembro, início das férias. Beatriz estava feliz demais pelas férias finalmente terem chegado, foi então que resolveu viajar. Sem destino e sem hora para voltar. Ela resolveu fazer o que sempre havia sonhado em fazer, sair sem rumo, sem se preocupar com nada e com ninguém, apenas ir...
Depois de quinze dias viajando tranquilamente, no meio do caminho, o pneu fura, o carro derrapa e sai da pista. Beatriz, assustada, começa a entrar em desespero e não sabe o que fazer. Após horas pensando em uma solução finalmente lembra que a alguns quilômetros havia visto um posto de gasolina com borracharia. Foram horas e horas  caminhando até chegar ao posto. Pediu ajuda a um homem, que fez o serviço sem cobrar nada. E então pôde seguir viagem.
Beatriz, assustada, começa a entrar em desespero e não sabe o que fazer. 
Porém, no meio do caminho, vê um homem de terno com a cara ferida e rasgada pedindo carona. Pouco depois o homem desaparece milagrosamente. Ela, que já estava um pouco cansada, achou que era coisas de sua cabeça. No entanto, por todo canto que olha vê o tal homem feio lhe pedindo carona. Beatriz então resolve parar para descansar no quintal de uma casa, afinal já tinha acontecido muita coisa naquele dia.
No outro dia, cedinho Beatriz resolve sair de viagem, quando percebe que novamente o pneu estava furado. Ela, achando que tinha sido o homem feio, e com muito medo, resolve gritar e pedir ajuda para alguém da casa, "alguém pode me ajudar? Estou com um pneu do meu carro furado". Mas ninguém a escuta.



Depois de horas novamente esperando por ajuda, passa um rapaz caminhando na estrada, e Beatriz sem pensar duas vezes grita por ajuda. O moço a ajudou e então pediu carona até a cidade. No caminho, a menina que já estava assustada com toda a situação que estava passando vê novamente o homem feio, e começa a fazer voltas para atropelar ele. O moço que se chamava Gabriel, ficou assustado e pediu para Beatriz para e deixá-lo ali mesmo. E ela com medo implorou "pelo amor de Deus, não me deixa sozinha! Tem um homem feio me perseguindo hádias, e eu estou com muito medo!". Mas ele, sem dó nem piedade, a abandonou.
Beatriz, sem dizer mais nada, desligou o telefone boquiaberta. 
Desesperada, Beatriz liga para casa e quem atende é Alessandra, a nova empregada da casa, que fala que Cristina a mãe de Beatriz está internada em uma clínica para loucos. "Não ela nunca teve problemas mentais", responde indignada. "Tudo aconteceu recentemente, há 16 dias, quando Beatriz, a filha mais nova dela, morreu em um acidente de carro, quando o carro derrapou e saiu da pista. Beatriz, sem dizer mais nada, desligou o telefone boquiaberta. Entra no carro, olha para trás e vê o tal homem, que diz "agora você entende que estamos indo para o mesmo lugar?". E os dois desaparecem milagrosamente...


"A vida às vezes surpreende. Um dia estamos aqui, amanhã não sabemos mais. E é por isso que se deve viver e aproveitar cada segundo. Valorizar as pessoas que estão ao redor, dizer o quanto as ama e o quanto as quer bem, afinal o amanhã pode não chegar!"

Minha doce esquizofrenia

por Laura Pimentel

Dror, acorde! Vamos, garoto! Eles estão vindo atrás de nós, precisamos fugir agora! O que houve? Você caiu e ficou desacordado, eu estava desesperada, achei que tivesse morrido. Eiii, calma aí, Chaya! vamos logo ou iremos ficar para trás. Chaya é linda, tem cabelos longos, sorriso fácil, olhos negros, uma personalidade difícil, e um gosto peculiar para uma jovem de dezessete anos. Carregando o sonho de ser professora, tinha um sonho maior ainda, que era dar aulas de graça para pessoas que não tiveram chances de estudar. Mas há exatamente duas semanas tudo mudou para ela, e para mim também. Foi quando os militares nazistas começaram a revistar as casas de nosso bairro pacato na nova capital Bratislava, onde éramos vizinhos em um bairro conhecido como Fischertorgasse. Naquela manhã ouvi os gritos, eram dela, estava resistindo à prisão, pois a levariam para algum campo de concentração, eu não contive minha fúria fui na sua direção com a intenção de salvá-la, mas de nada adiantou. Também, eu e meus pensamentos de super-herói! Nos levaram para um trem que estava à espera de mais uma carga de mortos vivos, todos ali sabiam que iriam morrer mais cedo ou mais tarde, e o pior de tudo era pensar que seria da forma mais cruel que nossas mentes jamais pudessem imaginar.
Chaya é linda, tem cabelos longos, sorriso fácil, olhos negros, uma personalidade difícil, e um gosto peculiar para uma jovem de dezessete anos. 
Mas quem diria que seria daquela maneira horrível que eu iria ter meus minutos de coragem e conversaria com Chaya, eu amo ela, faria qualquer coisa para salvá-la. Então tomei coragem e disse algumas palavras trêmulas: Ei, moça, não tema, eu estou contigo, prometo que não te deixarei. Ela chorou, mas não respondeu, somente me olhou no fundo dos olhos depositando em mim uma confiança inabalável. Quando chegamos em Auschwitz ii-Birkenau, fiquei desesperado com gritos de horror e gemidos vindos dos pavilhões, minha coragem desapareceu no mesmo instante. Naquele momento tive a certeza de que está seria a última vez que veria Chaya, e estava certo.
Me levaram para um pavilhão com outros homens e mulheres que estavam na fila para serem mortos, crianças sendo arrancadas de seus pais para morrerem bem ali na sua frente. Os militares entravam lá somente para chamar para matar ou trabalhar, comia somente uma vez ao dia sem reclamar. Em uma noite fria fui surpreendido por choro de criança, quando me deparei vi uma senhora esconder seu filho que aparentava ter uns seis meses de idade debaixo da cama enrolado em lençóis que ela pegou de outros prisioneiros. Mas não adiantou por muito tempo, a criança estava com fome, chorava incessantemente, até que o guarda noturno ouviu entrou com toda sua ira arrancando o bebê de seus braços e estrangulando-o bem ali na frente daquela mãe que lutava pela sobrevivência.



Todos os segundos que estive lá pensei em Chaya, em como estaria a minha boneca linda dos olhos negros como a noite, aquela garota sonhadora que eu amo tanto pode não estar mais viva, e eu delirando em minha insana esperança de sair daqui e dizer a ela o quanto a amo loucamente. Mesmo em meio a tantas crueldades e sem motivos para sonhar, eu imaginava seu rosto sorrindo para mim. Naquela noite tive a breve ideia de fugir dali, conversei com alguns prisioneiros, me disseram que era muito arriscado; afinal, muitos já haviam tentado e foram pegos e torturados até a morte, como se estivéssemos em condições de escolher qual forma de morrer era a mais digna. Foi quando, no amanhecer, um prisioneiro de outro pavilhão me falou que um grupo estava se preparando para a fuga na madrugada, ou seja, eu teria menos de vinte e quatro horas para conseguir escapar antes da próxima fila de prisioneiros morrer, pois eu era o número 1387 e restavam apenas cem para chegar minha vez.
Quando chegou a madrugada não pensei duas vezes, fiquei observando a movimentação dos guardas. De repente um deles se distrai quando é chamado por um colega, neste breve segundo eu saí correndo, tentando ser o mais silencioso possível para que não me vissem, ou estaria morto. Por alguns minutos deu certo, mas enquanto corria escutei os gritos de uma mulher. Parecia ser de Chaya. Fiquei extasiado tentando localizar a voz que ecoava em meus ouvidos entrando em minha mente, me levando para sua direção, quando em meio ao corre-corre sinto minha perna adormecer e percebo que levei um tiro. Entro em total pânico e acabo desmaiando.



Penso que estou sonhando pois escuto uma voz me chamando e tenho certeza que é Chaya, quando acordo vejo ela em minha frente, em nenhum momento cheguei a imaginar que ela poderia ser uma daquelas prisioneiras que iriam fugir, ou melhor, tentar sobreviver no meio da perseguição de tiros e decapitações que estavam acontecendo ali. Vamos! Corra ou iremos morrer! Começamos a correr sem parar. Chaya, eu preciso te dizer algo, achei que não iria mais te ver. Você está bem? Eles te machucaram? Pare de falar, Dror! Precisamos sobreviver a este massacre, depois que tudo isso acabar conversaremos. Tentei mais uma vez falar com ela, eu não estava conseguindo caminhar, minha perna doía muito, eu não queria que ela morresse por minha causa porque se continuássemos juntos eles iriam nos alcançar e matar a nós dois, então paramos por um segundo e fiz um pedido a ela: Chaya, por favor, me deixe ficar, vá você, continue fugindo e não olhe para trás,eu não quero perder você, eu...
Não deu tempo de falar nada. Ela levou um tiro no peito enquanto olhava fixamente para meus olhos com um pedido de socorro estampado em seu rosto, eu a amava mais do que tudo em minha vida, agora sentenciada à morte. Não tinha mais para onde fugir, tive que me entregar. Me pegaram pelos braços me jogando no caminhão de mortos que iria ser descarregado em outro campo, o mais doloroso foi ter que ir ao lado dela morta em meus braços, apesar de que não seria por muito tempo. Por um instante eu viajei no tempo e lembrei de todas as vezes que via ela passar em frente a minha casa, eu ficava a observando, imaginado uma vida a seu lado, seu nome era lindo: Chaya, o nome da vida. O significado de minha vida, ou breve vida de dezesseis anos.
Ela não sai da minha cabeça tenho certeza que ainda vou encontrá-la em meu subconsciente, em um lugar separado só para nós dois e vou dizer a ela o quanto a amo.
Hoje aos trinta anos, descobri o significado de meu nome: Dror quer dizer ‘pássaro da liberdade’. Liberdade essa que nunca tive vivendo enclausurado dentro de minha mente, dentro de uma clínica psiquiátrica. A única liberdade que tenho é a de viajar em minhas loucuras, que prefiro chamar de longas e insanas viagens, posso ir para onde eu quiser em meus delírios, mas sem escolher o destino. Ah, Chaya...ela não sai da minha cabeça, tenho certeza que ainda vou encontrá-la em meu subconsciente, em um lugar separado só para nós dois e vou dizer a ela o quanto a amo. Enquanto este dia não chega, eu te levo no fundo dos meus olhos para dentro da minha memória, e sigo viagem na minha doce esquizofrenia.

Perdas... Ganhos...

por Marjorie Bock

Naquela manhã resolvi sair sem rumo. Tantas coisas na minha vida. Boas, nem tão boas... Era frio, mas o sol brilhava como o astro que é. Manta, touca e botas altas. Saí. As pessoas pela rua afoitas, correndo... Eu não. Estava em paz, mesmo com os sentimentos anteriores.
Sou uma mulher independente. Bem sucedida. Bem casada e com uma bela família. Aparentemente nada a queixar. Na verdade nunca me queixei, não formalmente. No entanto sinto algo a faltar.
Nada de material me falta, conforto, tranquilidade, filhos lindos, bons amigos. Mas hoje, especialmente, senti vontade de sair, sem rumo, sozinha, a pé... Nada falei à família. Simplesmente saí.



A cafeteria mais adiante me chama a um café. Mesinhas na calçada sob o sol, aquele imponente de que já falei. Sentei-me, à espera do menu. Ao redor mesas vazias. Poucas pessoas. Dia de semana, muitos trabalhadores. O garçom se aproxima, me entrega o menu. Olho até escolher. Levanto os olhos e faço o pedido. Num segundo nossos olhares se encontram e eu congelo.
Pedro Henrique? Como pode? Tantos anos? Emudeço. Ele sorri, não me reconhece. Estou de touca, manta e óculos. Mas eu, eu o reconheceria à distância. Mesmo porte, mesmo sorriso, as mãos... Faço o pedido e volto o olhar para à esquerda, a fim de que ele não me reconheça. E ele não o faz. Nem minha voz...
Quanto tempo, anos, décadas.
Pedro Henrique foi o primeiro rosto que fitei. Sorriso largo. Me levou de mãos dadas para a sala.
Lembro-me chegando na escolinha da vila. Pequena, frágil, temerosa. Vínhamos de uma cidade grande para morar naquele lugarzinho. Deixávamos amigos e parentes próximos. Estávamos também falidos, sem dinheiro e sozinhos.
Pedro Henrique foi o primeiro rosto que fitei. Sorriso largo. Me levou de mãos dadas para a sala. Era bem maior que eu. E assim ficamos até o fim do colegial. Sempre juntos. Nos amamos... Riacho, gramado, montanhas... Promessas de morrer juntos. Ele rico, proprietário da fazenda onde meus pais trabalhavam. Eu pobre, mas com a certeza de que jamais ficaríamos longe um do outro.
Então. Ele foi embora estudar. Ele me deixou... No início uma carta a cada dois dias. Depois a cada semana e depois quase nada. Até a notícia. Seu Pedro vem nos visitar com a família. Com a família? Casado, pai, ele chegou. Não havia terminado os estudos e se mantinha ainda com ajuda dos pais, por isso voltara, para trabalhar na fazenda. Naquela época eu já estava me formando no curso de direito, o qual fizera em vários anos, conforme podia pagar, pois trabalhava durante o dia em uma livraria.
Já não morava mais no vilarejo, mas visitava meus pais nos fins de semana. Assim eu soube que ele viria. Não tive coragem de encontrá-lo. Não quis mais vê-lo. O homem que eu tanto amei e que me amava também. O homem que me cuidou por tantos anos. Este mesmo me abandonou. Não eu não podia...
Respirei. Rememorei. E me aliviei. Tudo acabou ali. Ou tudo começou ali. 
O tempo então passou, me tornei promotora de justiça. Me casei. Tenho minha família e hoje, por que hoje?,hoje reencontrei Pedro Henrique. Garçom. Grisalho, pele sofrida. Mas o sorriso, o mesmo.
A tristeza que outrora me tomava dissipou. Tomei o café em goles homeopáticos. Respirei. Rememorei. E me aliviei. Tudo acabou ali. Ou tudo começou ali. Minha vida tomava sentido. Era isso. Ponto final no passado, no abandono, na perda.
Levantei-me. Deixei gorda gorjeta ao garçom. Agradeci e mais uma vez vi o sorriso do Pedro. Tirei os óculos, sorri também, agradeci e saí... Ele ficou mudo, sem reação...



quinta-feira, 21 de julho de 2016

Última chamada para a fantasia

Em 2016 a turma de Oficina de Leitura e Produção de Texto optou pelo tema ‘viagem’ para o blog que editamos anualmente. Nele, os alunos do curso de Jornalismo da UNIJUÍ exercitam a produção autoral em textos de ficção, depois de um semestre inteiro de estudos sobre as relações entre o jornalismo e a literatura. O desafio lançado foi: criar a partir do tema ‘viagem’ uma história em formato livre – crônica, conto, poema em prosa, carta etc. –, soltando a imaginação e testando a capacidade narrativa.
O resultado aí está. Soma-se aos outros que temos trabalhado nesta disciplina nos anos anteriores, cujos links o leitor pode conferir abaixo. Mais uma vez, trazemos a público os novos contadores de histórias, futuros jornalistas que mostram seu talento para a narrativa e seu universo imaginário em viagens de pura fantasia. Embarque nessa!

Confira aqui as narrativas das turmas anteriores:



Marcio Granez

Editor e professor do curso de Jornalismo
Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS - UNIJUÍ

Fantasmas da perversidade

Leonardo Lauri Carlini

Sou padre. Sim, sou um padre. Miserável, débil e descrente, mas continuo sendo quem deve levar a palavra de um deus em que eu desacreditei. Hoje, com meus trinta anos de idade, olho pra trás e vejo que minha rotina sufocou toda a minha essência, minha vontade de realizar os meus anseios, meus luxos, de gozar a vida.
Aos dezoito anos de idade, após ter concluído o ensino médio, estava convicto de que minha vocação seria junto à igreja. Minha família, católica, sempre me direcionou aos caminhos do catolicismo, me fazendo crente em seu Deus. A partir daí, adentrei em um seminário da região, com o intuito de seguir os dogmas passados pelos que se dizem superiores em termos de fé.
Tento fazer uma análise, vasculhar o meu interior e procurar por qual escombro de minha fragilizada mente a minha fé se ocultou. O pouco que restava de minha sanidade acabou sendo exterminada com um cotidiano que se resumia entre casa paroquial e igrejas em que atendia. 



Apesar de minha curta carreira, milhares de confessos pecadores vieram a mim, com olhos frágeis e coração partido, procurando um conforto em meio ao mundo avesso em que fomos colocados. Entretanto, nenhum desses fiéis sabia que eu os desprezava, assim como um insignificante lixo que não me dou o desfrute de juntá-lo. Na verdade, meu real desejo era de cometer os seus pecados, deleitar-me das suas imperfeições e aplicar tudo o que há de mal em mim.
Me dirijo ao confessionário, ansioso à espera da primeira pessoa em que irei, por fim, aventurar-me e brincar com a sua existência.
Volto neste momento de uma viagem a uma capela interiorana. Venho matutando o percurso inteiro o momento libertário. Estaciono meu carro aos fundos da igreja, pressentindo um momento posterior. Me preparo, respiro e visto meu manto, que para muitos era sagrado, mas, para mim, um simples manto que irei banhar com sangue de pecadores. Me dirijo ao confessionário, ansioso à espera da primeira pessoa em que irei, por fim, aventurar-me e brincar com a sua existência. Poucos minutos depois chega um corpulento homem, com uma fisionomia abatida que começa a me confessar algo relacionado a infidelidade com sua esposa.  Dei de ombros a todas as suas conversas e antes que ele me desse as costas, minha adaga, pontiaguda e afiada, o perfurou com toda a minha energia contida durante anos.




Um banho de sangue, quente e de um vermelho vivo me atingiu, antes que o cadáver fosse ao chão. Uma jovem mulher, que acabara de entrar na igreja presenciou toda a cena. Por volta de vinte anos, pele branca, cabelo escuro e um tanto quanto acima do peso, a moça tentou correr aos berros para fora. Quanta prepotência... Nem bem chegou ao lado de fora, eu a alcancei, segurei-a pelos meus braços e arrastei-a para dentro. Minha vontade era de matá-la naquele exato momento, mas um lapso de lucidez me fez hesitar.
Um banho de sangue, quente e de um vermelho vivo me atingiu, antes que o cadáver fosse ao chão.
Com um murro na lateral de sua cabeça, deixei-a desacordada, ao passo em que procurava cordas e mordaça para deixá-la calada pelo tempo que fosse necessário. Minha astúcia levou-me a improvisar uma maneira de atá-la com toalhas que estavam em uma das mesas da matriz.
Imóvel, levei-a para o carro. Coloquei seu corpo no banco ao meu lado. Jamais tinha visto tal mulher. Minha abatida vida se transformava, da água para o vinho. Podia sentir uma palpitação impressionante de algo tenebroso tomando conta do meu ser, mas isso era algo bom, algo que eu tinha o anseio de conhecer. Acelerei. Não sabia para qual destino iria me direcionar, nem o que faria com a mulher.
Só sabia que estava viajando, imprevisível, desumano, vivendo a minha desumanidade, que assustadoramente me fascinava.






DO FILME DE VOLTA PARA O FUTURO I, II e III (BACK TO THE FUTURE, 1985)... Oficina de Leitura e Produção de Texto 2016 apresenta... De volta para o futuro: missão no Brasil

por Roger Alex de Almeida
Domingo, 15 de abril de 2018, 14 horas e 32 minutos, tudo aparentemente pacato na rotina da maioria dos cidadãos da cidade Hill Valley, Califórnia. Pacato, menos para o cientista Dr. Emmett Brown, que anda inquieto com as últimas notícias. Ele pega o jornal The New York Times, na capa do impresso a reportagem destaca: “A crise brasileira está afetando a América”, confere a matéria na íntegra lendo-a em voz alta.
“A crise do Brasil está causando um forte desequilíbrio na economia da América do Sul, resultando em uma da maior onda de desemprego dos últimos anos, a fome já atinge 50% da população. A crise é preocupante, pois o Brasil tem ligação fundamental na economia da América do Norte, o comércio de exportação e importação entre esses países está estagnado. O presidente dos EUA disse que rompera a aliança com o Brasil, isso pode explodir em uma guerra. Guerra das Américas.’’ Emmett Brown finaliza a leitura e liga para seu amigo Marty Mcfly.
O telefone toca na casa de Marty, ele pede para a sua esposa, Jennifer Parker, atender. “Amor, pode atender a ligação?” Jennifer responde “Sim, senhor Mcfly’’. Ela desliza o dedo no smartphone para aceitar a chamada do Dr.
- Alô, tudo bem, Dr. Brown? Brown responde que até o presente momento sim, mas no futuro, não estará nada bem. Emmett pede para falar com urgência com Mcfly.
Emmett pergunta se Marty tinha acompanhado as últimas notícias. Marty responde que não. “Não liguei a TV hoje, muito menos folheei o Times, para ver os fatos do dia, mas o que aconteceu? Não me diga que descobriram que Elvis Presley não morreu...’’. A Ironia de Mcfly não cortou o raciocínio de Emmett, que respondeu. “Elvis não morreu, mas a gente vai morrer se não mudarmos o futuro, e logo. Uma terrível guerra está para estourar na América! Esteja hoje à noite às 20 horas no meu laboratório, temos uma missão a realizar.’’ Dr. Emmett desliga o telefone, Marty se dirige para o local combinado.

Laboratório de pesquisa do cientista Dr. Emmett Brown
20 horas e um minuto, ele chega à casa de Emmett e se dirige até garagem onde funciona a oficina de criações do Dr. Emmett, na parede tem relógios com horários diferentes, no fundo ficam guardadas as invenções, no meio da garagem está o carro DeLorean DMC-12, modificado, que se tornou a máquina do tempo. O deslocamento do veículo é acionado quando máquina atinge 88 milhas por hora de velocidade. É dele que o Dr. Emmett Brown chama-o para entrar na oficina.



- ­Está atrasado, entra, precisamos achar uma forma de mudar o futuro, mudar o destino e evitar que a guerra das Américas aconteça. Vamos usar o DeLorean DMC-12, e fazer uma viagem ao passado para evitar que no presente ocorra o conflito. Mas primeiro temos que saber de que maneira e em qual época do tempo. Vamos realizar uma pesquisar para descobrir.
Eles passaram horas buscando nos livros, fazendo cálculos científicos, previsões do tempo, discutindo possibilidades, até que Marty descobre em um livro uma hipótese.
- Achei uma luz no fim do túnel, nesta obra literária do filósofo Karl Marx, que fala das ''concepções de mundo'', a formação das ideias da sociedade, as filosofias mitológicas, razão instrumental e o capitalismo de poder. A origem da crise do Brasil só pode estar na ideologia dos políticos. – Dr. Emmett responde positivamente.
- Sim! Você é um gênio, Marty, a origem da crise econômica é consequência da crise política, e a crise política só pode vir do modelo mental do governo. Que está corrompida pelo individualismo, interesses pessoais, partidários e pela corrupção. Marty pergunta para o Cientista qual seria a ação a ser tomada. Dr. Emmett responde:
- Precisamos voltar ao ano de 1840, quando Dom Pedro II, aos 14 anos, foi pronunciado capaz de governar. Ele era apenas um garoto, dependia diretamente dos seus conselheiros para tomar decisões, políticos notáveis​​: a "facção dos cortesões''. Essa facção foi a responsável por difundir o paradigma corruptível que perdura até os dias de hoje no Brasil. – Marty indaga como fariam para mudar o arquétipo.
- Eles dificilmente nos ouvirão, acho que vamos acabar virando escravos, queimados na fogueira ou mandados para a prisão. – Dr. Emmett responde:
- Não irão ouvir a nós. Mas as palavras do filósofo Emmanuel Levinas, que declara: ''o domínio da guerra e da violência é sempre sinônimo de uma vida sem-sentido. Somente uma relação pacífica e solidária entre as pessoas possibilita a superação do caos da guerra e a instituição de uma vida com sentido verdadeiro''. Temos que introduzir essa teoria dentro do conselho de Dom Pedro de Alcântara, para que se forme uma nova ciência com valores e princípios que respeitem a coletividade, pense no bem-estar do povo. Marty responde que achou em um livro de história do Brasil um homem que tinha ligação direta com a corte real.
-Engenheiro André Rebouças, esse é o cara que vai levar o manuscrito até o chefe, vamos entregar para ele a obra de Levinas. – Então o Dr. Emmett liga o automóvel, acerta os ponteiros do relógio temporal, pisa fundo no acelerador e diz:
- Apertem os cintos! Rio de Janeiro, 1840, aí vamos nós fazer uma interrupção no tempo-espaço.

Rio De Janeiro, século XVIII
Uma explosão acontece no céu, é a máquina do tempo chegando como um raio ao Império brasileiro, ela estaciona na beira da praia. Marty Mcfly sai do DMC assustado, olhando tudo a sua volta, o doutor desce vestido com roupas antigas à moda inglesa, com um mapa na mão ele mostra a seu comparsa como chegar à casa da Família Imperial, e se aproximar do engenheiro André.
Dr. Brown criou uma estratégia de levar a tese do filósofo até André Rebouças, disfarçando seu amigo de mensageiro do rei de Portugal. Brown orienta Marty acerca do plano.
- Primeiro você vai se chamar mensageiro Augusto Cabral, e chegará a cavalo à casa do imperador. Quando saírem ao seu encontro para o receberem, você diz que tem boas novas e uma dádiva do rei de Portugal, para seu filho amado Dom Pedro II. Diga, olhando para André, que o presente é de extremo valor e de inteira aceitação, clame aos seus ouvidos que as mensagens nele contidas devem servir como um manual de governo do Brasil, e deverá ser preservada para as gerações futuras. Agradeça e saia rápido de cena, estarei aguardando por você na praia do Rio, para partimos de volta para o futuro.
Marty chega a cavalo ao palácio de Dom Pedro II, e é recepcionado pelos soldados da casa, Mcfly se identifica como Augusto Cabral, mensageiro da Coroa portuguesa. Ele solicita apresentar-se diante do imperador. Os guardas deixam Marty, ou melhor Augusto, entrar e pronunciar o comunicado, André Rebouças o recebe.
- Sou o mensageiro Augusto Cabral, vindo de Portugal, trago mensagens do rei ao seu filho e conselheiros. Poucas palavras tenho a dizer, mas de suma importância. Ele deseja que se cultive a paz nesta terra, que se forme aqui um povo honesto e trabalhador. Tenho também essa dádiva especial, na verdade ele é mais do que um presente, é um livro, conjunto de princípios e valores morais, nele está o sucesso e futuro do Brasil.
Marty deixa o local e vai em direção da máquina do tempo, mas é barrado no caminho por um homem, senhor dos escravos dono de uma grande fazenda.

Marty Mcfly, escravo fujão
Quando se aproximava da saída da cidade, Marty foi confundido com um escravo que havia fugido de uma senzala, ele foi capturado e colocado à venda no mercado popular. O comerciante anunciava o novo produto para os clientes.
- Escravos! Escravos pelo melhor preço e de boa qualidade! Veja esse daqui, tem todos os dentes na boca!– fazia a propaganda apontando para Mcfly, que tentava explicar que tudo não passava de um engano, mas o vendedor oferecia os produtos humanos com mais empolgação.
- Escravos, escravos de qualidade, fortes, prontos para o trabalho! Vejam esse daqui, além de ter todos os dentes sabe falar nossa língua, um ótimo negócio! Quem vai levar?
Nisso aparece o cientista Emmett e faz uma proposta pelo escravo: ele oferece cinco moedas de ouro. O negociante vende Marty para o doutor, eles partem rumo à beira-mar, para retornarem ao seu tempo.
Dentro do carro usado para viagem no tempo DeLorean DMC-12, eles olham para o jornal trazido junto do futuro, e notam que a notícia da guerra das Américas foi apagada. Mcfly comemora e liga o carro, pisa no acelerador e diz: ''De volta para o futuro!’’.

De volta para o século XXI
Hill Valley, 2018, um relâmpago surge no meio da rua, é a máquina do tempo chegando. Dr.Brown corre até uma banca de jornais e adquire uma edição do The New York Times. No impresso a matéria acerca da crise brasileira e possível guerra não existe mais, ele relata as novas informações para Marty.
- Veja, Mcfly: Brasil é reconhecido mundialmente por promover a paz e união dos povos. A economia brasileira cresce rapidamente, em um futuro próximo o país deve se tornar a 2ª potencial mundial. A concepção de mundo foi mudada.
Mas outra notícia despertou a atenção do cientista e de Marty.
- Arqueólogos descobriram um objeto histórico nas ruínas da casa da família de Dom Pedro II, no Brasil. O artefato é muito semelhante com um celular. Mcfly! Você perdeu o seu smartphone no passado! E agora? Isso vai provocar um paradoxo temporal, temos que voltar...
Quem se aventura a continuar essa história, lembre-se: o futuro ainda não foi escrito. Ele será o que você escolher hoje.