segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Uma viagem ao 'eu' desconhecido

Suzana Klein da Silva

Ei! Você já parou por alguns segundos para observar a sua volta? A si mesmo? Difícil, não? Com a correria do dia a dia, deixamos passar despercebidos de nossos olhares coisas simples, corriqueiras do nosso cotidiano, mas que aos poucos vão moldando as “vidas” que nos cercam e a nós mesmos. Experimente por alguns segundos admirar, da sua janela mesmo. As paisagens, sentir o vento, ouvir os sons que ecoam a sua volta, as pessoas, mas principalmente busque entender a si mesmo e aos outros que o cercam. Nossa história começa em uma bolha. - Uma bolha? - Sim, isso mesmo! Uma bolha. Não uma simples “bolha de sabão”, que flutua pelo ar, quando soprada por uma criança, ou aquelas “bolhas” que saem em ferimentos, eca!,definitivamente não! Essa “bolha”, vamos assim chamá-la, é o lugar onde vive Karle. Em um tempo não muito distante, há lugar isolado por uma enorme bolha, de nome um tanto peculiar, “Divinópolis”. Neste, tudo e todos vivem envoltos por bolhas, cada um com a sua, “casulos” se assim preferir.



Ali vivia Karle com seus 18 anos, estudante, levava uma vida normal, porém tediosa. Imagine você aí, de sua janela, se tudo que o que vê fosse exatamente igual, “um monte de bolhas”. Tedioso, não? Enfim. Naquela manhã de verão nada era diferente, a mesma rotina, os mesmos sons, as mesmas bolhas, porém Karle lembrara de um sonho. Neste, ela se encontrava em um lindo jardim florido, admirava um pôr do sol deslumbrante, sentada com um livro na mão, ao lado de uma cesta de frutas em cima de uma toalha xadrez, estendida sob a grama, um “piquenique”. Cena que Karle só lia em livros, pois nunca esteve num lugar assim, “especial”, sonhar com este só lhe fez pensar... “- E se tudo o que há fora dessa bolha for diferente?”. Quanto mais pensava, mais vontade ela tinha de sair dali.  Mas como iria fazer para sair de sua bolha?  Escapar da enorme bolha que a cercava? O jeito era arranjar uma forma, pesquisar nos livros uma maneira de livrar-se das “bolhas” e ir em busca de seu maior desejo. Sua aventura começava na biblioteca.



Ao chegar à biblioteca da cidade, Karle encaminhou-se para a seção em que estavam os livros sobre ferramentas, após a pesquisa encontrou o livro “Formas e Soluções”, que trazia as formas como foram confeccionadas cada bolha e como fora fundada a cidade. Porém estas eram muito complexas para o entendimento de Karle, já que envolviam cálculos e “Matemática” não era o seu forte.  No capítulo “Soluções”, Karle encontrou um trecho que trazia a frase “São escolhas que nos fazem e moldam nossas vidas”. Naquele instante ela não compreendeu do que a frase se tratava. Voltou a ler, folheando página por página, até o momento que encontrou uma anotação no rodapé da página 67: “Se procura uma saída, busque isso em si mesmo”. Novamente não compreendeu e passou a folhear cada vez mais as páginas na ânsia de encontrar uma solução. As páginas do livro cessaram e sem respostas Karle saiu da biblioteca desapontada. No caminho ela tentava entender qual o sentido das frases; entretanto, quanto mais pensava menos compreendia.
São escolhas que nos fazem e moldam nossas vidas.
Após caminhar por horas refletindo sobre as frases, ela se encontrou de frente a um caminho estreito. Nunca havia visto aquela parte da cidade, nem sequer sabia aonde aquele caminho a levaria, mas ela precisava de respostas e foi aí que “escolheu”: “Seguirei em frente” - disse para si mesma.  A cada passo por aquele caminho, Karle pensava: “O que farei se essa for a saída?”. O medo do desconhecido aos poucos ia tomando-a, mas sua vontade de sair da bolha era maior. No final daquele caminho Karle avistou uma porta; estava trancada, porém havia algo escrito: “Descubra a chave e encontre seus sonhos”. Ao ler em voz alta a frase, ela ouviu um ‘Bip!’soar, depois do som a porta abriu. Levava a uma sala cheia de espelhos, no centro havia uma poltrona, ao lado desta uma mesinha e em cima da mesa um livro. Tomada pela curiosidade, ela entrou na sala, sentou-se na poltrona, pegou o livro na mão, o qual trazia o seguinte título: “A viagem de volta ao amanhã”.
Karle começou a folhear as páginas, que traziam imagens, fotos de paisagens, pessoas, animais, plantas, entre outros. Quanto mais folheava as páginas do livro, mais fascinada ficava. Em uma página havia uma pequena foto de um senhor velhinho, cujo nome não estava escrito, abaixo da imagem havia a seguinte frase: “Se encontrou a saída dentro de si, este será o seu recomeço”. A garota não entendia o que tais palavras significavam, fechou o livro e o colocou novamente sobre a mesa. Ao se levantar para sair da sala, Karle deparou-se com a porta fechada. Por um momento a garota ficou assustada, pois como iria sair daquele lugar, se ninguém havia visto ela entrar ali? Minutos se passavam e mais apreensiva ela ficava. Sentou-se novamente na poltrona, na tentativa de acalmar-se e tentar achar um meio de sair daquele local.  Karle passou a observar a sua volta. Ao entrar na sala, ela não notara que, de todos os espelhos, apenas em um, do lado esquerdo da saleta, conseguia ver o seu reflexo.



Começou a observar-se por alguns instantes, enquanto admirava as linhas do seu rosto, os olhos, nariz, orelhas, o comprimento de seu cabelo, seu corpo. Quanto mais via-se, menos ela se conhecia. A imagem refletida pelo espelho era de uma desconhecida. Aquela seria realmente ela? Apenas uma bolha em meio a tantas outras? Não! Karle sabia que era mais do que simples bolha, ela havia feito a escolha de seguir em frente, em busca de seu sonho. Ao refletir, entendeu a primeira frase do livro “Formas e Soluções”, o qual lera na biblioteca. “São escolhas que nos fazem e moldam nossas vidas”, pois ela havia feito a escolha de seguir em frente sem recear o que a esperava. Ao repetir a frase em voz alta, duas janelas entre os espelhos começaram a surgir. Na primeira estava escrito “o Ontem” e na segunda “o Amanhã”.  Teria ela que escolher entre uma das duas para sair dali? – Pare um instante e pense... qual seria a sua escolha, conhecer o ontem ou o amanhã?
A dúvida pairava nos pensamentos de Karle. Qual escolha fazer? O ontem ou o amanhã? Em um certo instante a dúvida foi dizimada, pois ela conhecia o ontem, este era como sempre fora, as mesmas coisas, mesmas bolhas. Desconhecia o amanhã, mas não sabia como este seria, se não vivesse o hoje, o presente. Agora ela conhecia a si mesma, sabia o que queria, e não iria tomar decisões precipitadas, pois suas escolhas a trouxeram até a li e moldaram a sua nova vida, seu novo eu. Karle andou em direção à porta da sala, quando ouviu algo ranger abaixo de seus pés. Ali havia uma madeira do assoalho solta, ela abaixou-se e cuidadosamente retirou a madeira. Dentro do buraco que se formou no chão, estava um bilhete envolto em uma chave. Neste dizia: “Viva o Hoje na ânsia de conquistar o Amanhã”. Ao dar um passo para trás, a garota percebeu uma fechadura, no canto inferior esquerdo do espelho, o qual antes contemplava o seu reflexo. Ela seguiu em direção ao espelho, pôs a chave na fechadura e girou-a lentamente.
Viva o hoje na ânsia de conquistar o amanhã.
Neste instante uma porta surgiu entre os espelhos, atrás da poltrona. Ela seguiu em sua direção, posicionou sua mão direita na maçaneta da porta e lentamente foi abrindo-a. Ao abrir a porta por completo, a garota observou ao longe o entardecer, o pôr do sol de seus sonhos formando-se na sua frente, flores e um gramado extenso formavam tal paisagem. Sem hesitar, Karle despiu-se dos medos e seguiu em frente. A porta fechara-se “exilando” um mundo em que semelhantes se tronaram desconhecidos, sucumbidos por suas bolhas. Hoje Karle viaja pelo mundo, faz seus “piqueniques” na companhia de seus livros, contempla as belezas, que antes passavam despercebidas no seu dia a dia, conhece pessoas, faz de cada uma das suas escolhas oportunidades para recomeçar, seguir sua vida e conquistar os seus sonhos, a cada novo amanhecer...



Faça você esta viagem, em busca do seu “eu” desconhecido, procure encontrar-se e entender as pessoas, as coisas como elas são. Desfaça-se de sua bolha e contemple a vida como ela é. Viva o hoje e conquiste o amanhã.

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