segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A viagem que não aconteceu

Évelin Diogo Lorca

Chegou o tão esperado dia, o dia de embarcar para meu intercâmbio em Madri. Só eu sei o quanto batalhei para que esta viagem, ou melhor, este sonho se tornasse realidade. Tive que abrir mão de muita coisa, inclusive do meu amor, o Gabriel. Mas acredito que em primeiro lugar devem vir os nossos sonhos. Resolvi ir sozinha para o aeroporto, não gosto de despedidas. Chamei o táxi. Quando ele chegou, dei uma última olhada na minha casa, para que ficasse com a lembrança dela na mente durante esse próximo ano que ficaria fora.
Quando estávamos próximos do aeroporto ouvi um estrondo muito forte. Então me vi caída no chão, muitas pessoas estão ao meu redor. Não entendo o que aconteceu. Sinto uma dor enorme na minha cabeça, tento pedir ajuda, mas é em vão, eles não me ouvem. Ouço então sirenes vindas em direção onde estou e algumas pessoas de branco me recolhendo para colocar na ambulância.
Sinto uma dor enorme na minha cabeça, tento pedir ajuda, mas é em vão, eles não me ouvem. 
Chegamos ao hospital, todos abrem espaço para que possam passar com a minha maca. Ainda não entendo o que está acontecendo, mas me preocupo, por que ninguém me escuta? Por que eles não ouvem o que eu digo?
Vejo de longe, são meus pais. Gabriel está com eles também. Todos choram desesperados, tento dizer para eles se acalmarem, que estou bem, mas eles também não me escutam. Um médico se aproxima e ouço-o dizer que terei que fazer uma cirurgia urgentemente, pois o acidente foi grave.
Desespero-me, não posso morrer, não agora! Tenho uma vida pela frente, meus sonhos como ficam? A viagem que tanto esperei acontecer? Não, não me deixem morrer! Corro até onde está meu corpo, ali parado sem nenhuma ação, vejo sangue por todo ele. A cirurgia já dura horas, quando finalmente o médico sai da sala.
Meus pais e o Gabriel o olham com apreensão. Ele então diz que fizeram tudo que estava ao seu alcance, mas infelizmente não tinham obtido êxito. Agora estava a critério de eles decidirem o que fariam, se desligariam os aparelhos ou não.
Meu mundo desmorona, eu não quero ir, não posso deixar eles que amo tanto. Dói-me pensar nisso, mas me dói mais ainda saber que não disse isso a eles, eu passei tanto tempo preocupada com meus sonhos, com a minha estabilidade, em ser independente com esta viagem, que acabei esquecendo de dizer a eles o quanto são especiais para mim e o quanto eu os amo.
Meu mundo desmorona, eu não quero ir, não posso deixar eles que amo tanto. 
Eles estão sem reação. Seguem até o quarto onde estou e eu os sigo. Primeiro meus pais entram. É terrível vê-los tão desmoronados assim, eles choram em cima de mim e eu queria poder abraçá-los, mas eles nem sequer sentem meu toque. Desnorteados em me ver naquela situação e certos que deveriam me deixar ir, saem da sala para que Gabriel possa se despedir também.
Ele entra no quarto, seu rosto está vermelho, seus olhos inchados. Nunca o vi assim. Só queria poder dizer a ele que o amo. Gabriel se aproxima e pega na minha mão. Sim, eu senti seu toque, e então o ouço dizer:
- Ana, você não pode ir, eu preciso de você aqui! Não sei ficar sem você, eu te amo!
Nisso, sinto algo estranho, uma força me invade e me faz ter coragem para lutar. Vejo uma luz muito forte, que me guia. Eu preciso voltar! Então abro os olhos. Aperto a mão de Gabriel e digo que o amo.




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